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Zoltan Istvan, o candidato ciborgue

Com chip na mão, escritor enfrentou Hillary e Trump e aposta em futuro imortal para humanos

Por Bruno Capelas
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As eleições presidenciais nos Estados Unidos costumam girar em torno de dois candidatos – um republicano e um democrata, os dois maiores partidos do país. No entanto, a cada quatro anos o cargo executivo mais importante do mundo é disputado por dezenas de candidatos, que podem se registrar independentemente e buscam, normalmente, chamar a atenção para uma causas. O jornalista e escritor Zoltan Istvan, de 43 anos, foi um deles – com uma visão de futuro bem ousada. 

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“Hoje, a maior parte das pessoas morre a partir da falência de alguns órgãos. Nos próximos 20 anos, me surpreenderei se nós não trocarmos nossos órgãos por órgãos sintéticos”, disse ele, em entrevista ao Estado. 

“Em dez anos, teremos braços mecânicos mais fortes do que o braço humano. Eles serão tão bons que acabaremos trocando nossos braços por próteses”, aposta Istvan, que tem um biochip implantado em uma de suas mãos. “É ótimo quando vou surfar: não preciso me preocupar em deixar as chaves de casa na areia. Também tenho duas filhas pequenas que adoram brincar com chaves. É bom não precisar disso pra entrar em casa”, disse. 

Istvan foi lançado pelo Partido Transumanista, criado por ele próprio. Segundo o jornalista, o transumanismo “é um movimento internacional e social de pessoas que querem usar ciência e tecnologia para modificar os seres humanos e a experiência humana” – e isso inclui o uso de biochips e edição de código genético para tornar os humanos, bem, super-humanos. 

Campanha. Uma de suas metas particulares é ter um presidente transumanista – com direito a próteses e biochips, claro – na Casa Branca até 2040. 

O caminho até lá será longo: em 2016, o Partido Transumanista só pôde disputar eleições em dois Estados – e Istvan teve ao todo 95 votos, combinados entre eleitores da Flórida e de Nova York. 

Na conversa com o Estado, Istvan não deixou de disparar farpas aos seus rivais mais famosos. “Acredito que o método científico pode resolver qualquer problema no mundo – Hillary e Trump nunca fariam isso. A tecnologia tem mudado tanto que não precisamos de um entusiasta do assunto, mas sim de alguém totalmente dedicado ao tema na Casa Branca”, disse. 

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Apesar da derrota, Istvan diz que quer trabalhar para tornar os EUA um lugar melhor – ele se inscreveu para ser conselheiro voluntário de Trump. “Ele é um cara tão competitivo que não vai nos deixar ficar para trás em matéria de ciência – especialmente contra a China.”

Para Istvan, um tema importante é regulamentar o uso de biochips nos EUA – a tecnologia poderia ser a chave de solução para questões sociais. “Nos Estados Unidos, temos 3 milhões de abuso doméstico por ano. Se todo mundo usar biochips, será possível rastrear esses crimes. Isso para não falar no monitoramento constante da nossa saúde, resolvendo problemas como câncer, por exemplo.” 

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Com a redução de mortes por doenças como câncer e falências de órgão, Istvan vislumbra um futuro em que poderemos viver para sempre. “Estou convencido que, se você tem menos de 50 anos e mora num país desenvolvido, com certeza poderá viver por quanto tempo quiser”, diz o ex-presidenciável. “Poderemos viver por mil anos, se quisermos. O problema é a qualidade de vida: não quero viver com 80 anos para sempre. Não adianta viver séculos sem qualidade de vida”. 

Pé na estrada. Para chamar atenção para sua causa antes da candidatura, Zoltan Istvan rodou os EUA em 2015 com o Ônibus da Imortalidade. Em formato de caixão, o veículo levava Istvan para eventos e comícios pelo país para divulgar o transumanismo, de forma similar ao que fez o escritor Ken Kesey (Um Estranho no Ninho) em 1964 para divulgar o LSD. 

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Para lidar com a superpopulação, Istvan aposta no desenvolvimento da engenharia genética para conseguirmos cultivar alimentos o suficiente para suportar uma população de 15 bilhões de pessoas no planeta Terra. 

E mais importante: sem precisar trabalhar – para o presidenciável, este texto que você lê agora poderá ser feito por um robô daqui a 15 anos. “Quase todos os empregos poderão ser feitos por robôs. Não é difícil imaginar isso”, diz, já emendando a solução para a desigualdade. “Acredito que o governo vai suportar todo mundo com renda universal cidadã. Não é socialismo, mas sim uma política para tudo ficar igual. A última coisa que o transumanismo quer é criar uma distopia em que pobres trabalham e os ricos vivem para sempre.”

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